Rodas de Conversas Temáticas


As rodas de conversa temáticas são inspiradas nos processos circulares da Justiça Restaurativa, de onde aproveitamos algumas ferramentas para facilitar conversas em grupo. Trata-se de propostas de conversas sobre temas variados, que podem ser trazidos tanto pelos clientes na Porta de Entrada ou participantes de outras atividades do Instituto, como também sugeridos pela própria equipe clínica. Alguns exemplos: rodas de conversa com adolescentes sobre bullying e violência; rodas com pais de crianças pequenas (de 0 a 6 anos); rodas com casais separados com filhos; rodas com familiares de pessoas portadoras de transtorno mental etc.

 
 
 

 

Processos Circulares e Justiça Restaurativa



Inspirados nas tradições e rituais dos indígenas norte-americanos, aborígenes, povos africanos e outros ancestrais, os processos circulares consistem na restauração daquilo que de melhor trazemos em nós, a partir de conversas e da possibilidade de diálogo, que implica um lugar de voz e escuta. Por isto se diz que um círculo de diálogo não é uma técnica, mas um legado.

A conversa em círculo tem uma razão de ser, a forma física das pessoas uma ao lado da outra facilita a conexão e ajuda a manter em perspectiva aquilo que nos conecta, o nosso centro – o fogo. Compreendendo o diálogo como um tipo de conversa que tem um centro e não lados, convoca-lo em círculo é uma maneira de encontrar uma linguagem comum entre os participantes, para que possa ser falada a língua do coração, dos afetos, da memória, de uma forma lúdica e prazerosa – como um jogo. Um círculo pode ter os mais variados propósitos e aplicações. Existem, por exemplo, círculos de diálogo, de compreensão, de restabelecimento, sentenciamento, apoio, construção de senso comunitário, resolução de conflitos, reintegração, celebração etc. (ver em Kay Pranis, Processos Circulares. Ed. Palas Athena, 2010), mas em todos os casos, é importante que sejam seguidas algumas regrinhas:

- Para facilitar, ajudar a organizar e dar uma cadência mais calma ao círculo usamos o “bastão” da fala. O bastão da fala dá a voz, organiza o diálogo e permite incluir os momentos de silêncio que também são necessários na conversa. Falamos sempre um de cada vez, e esperamos que a pessoa termine de falar para tomarmos a palavra. Se não quisermos falar, passamos para a pessoa do lado, sempre seguindo o sentido do bastão.

- O bastão simboliza nosso “estar com”.

- Xs facilitadorxs participam como os demais e também esperam a sua vez para falar. É muito raro acontecer alguma coisa que interrompa o fluxo do círculo, mas se isto acontecer, o bastão volta para o centro, conversamos e depois retomamos.

A justiça restaurativa, por sua vez, é um modelo de solução de conflitos que começou a ser desenvolvido em 1970, em países comoCanadá, Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, Argentina, Colômbia e Brasil, entre outros, a partir de uma tradição antiga de diversos países africanos. O intuito era de restaurar as relações ou a própria pessoa que comete um delito, apostando na possibilidade de reaproximar a vítima e o autor do mesmo, podendo restaurar os eventuais danos sofridos.

Albert Eglash, psicólogo norte-americano que trabalhava com detentos, foi quem cunhou o termo justiça restaurativa. O seu trabalho era mostrar como o comportamento delitivo era também prejudicial às vítimas, e quais atitudes poderiam ser tomadas pelos que cometeram alguma ofensa para reparar os danos causados. Basicamente, o modelo propõe uma nova forma de enxergar crimes e punições, buscando coletiva e colaborativamente uma forma de resgatar, nas pessoas envolvidas em situações de delito ou ofensa, o que de melhor elas trazem em si.