Uma entrevista com Adriano Beiras e Alan Bronz sobre a metodologia de Grupos Reflexivos de Gênero.
Como lidar com a violência de gênero (tanto em relação ao autor como em relação à vítima)?
A situação de violência de gênero é de difícil resolução. No casal onde este tipo de situação é identificado, ocorre uma escalada de violência que, de modo geral, atinge seu clímax antes que as partes envolvidas tenham uma percepção objetiva de sua gravidade. O fato de ocorrer, na esmagadora maioria das vezes, dentro de quatro paredes também dificulta sua identificação por parte de terceiros. Muitas vezes, a única forma de deter o ciclo de violência no casal é com a intervenção da Justiça através de denúncia realizada pela vítima da agressão de modo que esta é a solução mais eficaz quando um processo desta natureza já se encontra em curso. Em realidade, campanhas públicas que tratam de assuntos e dispositivos como os Grupos Reflexivos de Gênero e que procuram promover uma reflexão com o intuito de promover uma maior equidade nas relações de gênero são as melhores formas de se lidar com a problemática. Em outras palavras, é preciso investir em iniciativas que visam sua prevenção.
Como se dá a Metodologia de Grupos Reflexivos de Gênero e em quais ocasiões ela é útil.
Consiste num trabalho realizado em grupo onde os participantes são estimulados a compartilhar experiências e percepções principalmente sobre a temática central, ou seja, relações de gênero. É nesse contexto de trocas, facilitado por uma dupla capacitada na metodologia, que as pessoas podem confrontar de forma sincera e respeitosa os diferentes posicionamentos e promover uma reformulação nas suas visões sobre os assuntos debatidos ao longo do processo. A metodologia pode ser aplicada tanto de forma preventiva, em qualquer local ou organização onde exista o interesse em desenvolver um trabalho deste tipo, bem como de forma profilática para evitar reincidência dos episódios de violência.
Como essa metodologia foi criada?
A metodologia foi originalmente criada a partir da necessidade do Instituto Noos aprofundar seus conhecimentos a respeito da violência exercida por homens contra as mulheres nas relações afetivas. No início ela era utilizada somente com homens para este intuito, mas, a partir do momento que ela foi se mostrando útil como uma terapêutica para estes tipos de situação, foi testada, com sucesso, com as mulheres até atingir sua forma atual em que é possível realizar também grupos composto por homens e mulheres.
Quais os principais impactos nos beneficiados pelos Grupos Reflexivos de Gênero?
O Instituto Noos, através da sua metodologia de Grupos Reflexivos de Gênero, já atingiu uma quantidade significativa de homens e mulheres envolvidos em situação de violência de gênero. O resultado expresso pelas avaliações realizadas pela própria organização demonstram que o trabalho gera efeitos benéficos. No caso dos homens, constata-se uma aquisição mais consistente do controle da impulsividade e, portanto, das agressões e, no caso das mulheres, uma maior conquista de autonomia em relação ao parceiro, propiciando uma atitude mais resolutiva em relação à problemática.
Como reconstruir o lugar social do autor da violência e como torná-lo um direito perante a sociedade?
Em realidade, é necessário reformular as relações de gênero no sentido de promover uma troca mais democrática entre os sexos. Em outras palavras, é preciso reconfigurar os lugares nas relações afetivas em que impere uma relação menos atravessada pelas disputas de poder onde muitas vezes os homens acabam prevalecendo inclusive através da supremacia física. Assim sendo, não se trata de um processo de “desmarginalização” dos homens, mas de estabelecer um novo paradigma para as relações afetivas.
Tem algum artigo, vídeo, site que queira compartilhar conosco para entendermos melhor a questão de gênero?
No final da última publicação sobre a metodologia editada pelo Instituto Noos (disponível no link a seguir) existe uma relação bastante rica de materiais a respeito deste tema. Compartilho também o mapeamento de serviços de atenção grupal a homens no Brasil, além de uma reportagem sobre como a falta de políticas públicas dificulta a implantação de programas de reabilitação a homens agressores.
Metodologia de grupos reflexivos de gênero, Adriano Beiras e Alan Bronz
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Mapeamento de Serviços de atenção grupal a homens autores de violência contra mulheres no contexto brasileiro:
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Reportagem
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