ENTREVISTA
Convidamos Maíra Mendes Pita, ex-aluna do curso de formação em terapia de família e participante do primeiro workshop de Grupos Reflexivos de Gênero, para uma entrevista. Desde sua participação no workshop, em 2015, no Rio de Janeiro, Maíra tem estado bastante envolvida e engajada com a prática de grupos reflexivos, inclusive idealizando o "Elas no Mar Social", projeto que ensina natação, surfe e stand up paddle a meninas de comunidades do Rio de Janeiro que convivem com situações de violência intrafamiliar e de gênero. Através do esporte e da metodologia de grupos reflexivos, Maíra tem levado empoderamento e transformações às meninas, suas famílias e em sua própria vida.
Instituto Noos - Qual foi sua motivação para fazer o curso Grupos Reflexivos de Gênero no Noos?
Maíra - Eu já estava fazendo um curso de formação em terapia de família no Noos quando foi oferecido o curso para trabalhar com homens autores de violência doméstica. Na verdade, eu tinha uma experiência trabalhando no DEGASE (Departamento Geral de Ações Socioeducativas) durante 5 anos, nas unidades de internação do sistema socioeducativo, com meninos e meninas. Esse meu histórico de trabalhar com a questão da violência me levou a querer conhecer a metodologia de grupos reflexivos e eu super me interessei no curso.
Conte-nos um pouco sobre o projeto "Elas no Mar Social" e suas motivações para idealizá-lo.
A ideia do projeto nasceu há 3 anos e meio, quando aprendi a nadar, e foi em paralelo a esse trabalho com homens nos grupos reflexivos. Eu comecei a fazer um grupo com Marco Martinez, que era um dos professores, e a gente foi dupla de facilitadores do grupo no juizado de Niterói.
Bem nessa época eu passei por muitas mudanças na minha vida pessoal, estava me separando do pai da minha filha. Acho que não foi por acaso que estava trabalhando com essas questões. Comecei a perceber que a gente acaba sendo conivente com muitas formas dessas violências que são mais veladas.
Então, essas transformações profissionais e pessoais também aconteceram junto com o nascimento dessa minha veia no esporte, quando comecei a nadar, aprendi a controlar esse medo que eu tinha do mar e a lidar com isso.
Foram coisas juntas, esse empoderamento que foi andando junto com o trabalho dos grupos reflexivos, minha descoberta no esporte e a minha separação.
Como o curso GRG contribuiu para a formatação e desenvolvimento do projeto?
Eu tive a ideia de fazer um grupo reflexivo de gênero com meninas, adolescentes, moradoras de comunidades do Rio de Janeiro, junto com esse processo no mar, de empoderá-las também no mar e nos grupos. É fazer um mergulho dentro e fora do mar, um mergulho na subjetividade e uma oportunidade para que elas aprendessem, no mar, esportes que ainda são elitizados no Rio de Janeiro, a que só uma pequena parcela da população tem acesso, até a natação. As praias ficam lotadas de adolescentes, principalmente ali, no Arpoador, onde a gente começou o projeto. E deu super certo!
A gente fez um convênio com a Secretaria de Educação. Pegamos a metodologia dos grupos reflexivos, adaptamos a essa realidade da praia. Então, os grupos acontecem logo que as meninas saem do mar (elas têm aulas de natação e stand up paddle). A gente se reúne numa canga, sob um guarda-sol, elas lancham e começamos a roda de conversa. O acordo de convivência foi feito no início, levantamento temático e estamos seguindo os passos da metodologia dos grupos. A transformação é bem visível, como elas se relacionam entre si e dividem suas histórias de vida… Elas estão se desenvolvendo muito bem, tanto dentro da água quanto na escola.
O retorno das famílias, a quem eu também dou um certo acompanhamento e acolhimento, é maravilhoso.
Como você tem aplicado os aprendizados do curso no projeto?
No processo de seleção das meninas, junto ao pedagogo e também gestor do projeto Rian Maia, priorizamos adolescentes com histórico de violência familiar. Isso já foi um olhar cuidadoso que tivemos na seleção, para que a gente pudesse realmente transformar a vida dessas adolescentes, que tem questões muito concretas para lidar. Elas já têm mostrado uma mudança de atitude perante a família e na escola, nas questões de violência.
Eu tento fazer um trabalho também para que elas reflitam sobre as reações delas a isso, como elas podem se unir, se proteger, se acolher. É muito importante essa troca de experiência entre elas também. É muito rico e elas têm se apoiado demais. É muito bonito de ver.
Como as pessoas podem ajudar na continuidade do projeto? Quais são as principais necessidades atuais?
Então, agora o que a gente precisa é de divulgação, que as pessoas conheçam o projeto. Estamos nos inscrevendo nas leis de incentivo ao esporte, em editais, buscando patrocínio e também aceitamos patrocínio.
O importante é fazer barulho para que muitas pessoas compartilhem o vídeo do projeto, conheçam o trabalho, para que a gente consiga dar continuidade e pagar os profissionais que estão se dedicando muito e estão bastante envolvidos no projeto.
Além da contribuição para o projeto, que outras contribuições o curso GRG trouxe para o seu dia a dia profissional e pessoal?
A metodologia dos grupos reflexivos de gênero realmente foi muito transformadora na minha vida. A própria simplicidade do acordo de convivência e como isso pode ser transformador nas relações, nos espaços compartilhados é incrível. À partir daí e com a formação em terapia de família, meu olhar simplesmente se ampliou. A minha forma de me comunicar, de conseguir não ficar emitindo a minha opinião sobre as as coisas, mas levar à reflexão, buscar o não julgamento e, o tempo todo, tentar refletir sobre existências que são diferentes de outras possibilidades é, realmente, muito rico e transformador.
Você recomendaria o curso GRG para outras pessoas? Para quem e por quê?
Recomendaria para pessoas que gostam de trabalhar com grupos, psicólogos e educadores. Essa minha experiência no projeto em parceria com o Rian, pedagogo, é muito interessante! Ver como ele está se apropriando da metodologia e como isso pode funcionar também na educação, na área da justiça, em ambientes corporativos, nas escolas… Pode se adaptar a qualquer espaço, em qualquer grupo que se proponha a refletir e compartilhar.
Acompanhe o "Elas no Mar Social" no Facebook para saber mais sobre o projeto e também como ajudar.
Se interessou pela metodologia dos Grupos Reflexivos de Gênero? Mande um e-mail para saber mais sobre o curso oferecido pelo Instituto Noos e as próximas turmas: secretaria@noos.org.br
Convidamos Maíra Mendes Pita, ex-aluna do curso de formação em terapia de família e participante do primeiro workshop de Grupos Reflexivos de Gênero, para uma entrevista. Desde sua participação no workshop, em 2015, no Rio de Janeiro, Maíra tem estado bastante envolvida e engajada com a prática de grupos reflexivos, inclusive idealizando o "Elas no Mar Social", projeto que ensina natação, surfe e stand up paddle a meninas de comunidades do Rio de Janeiro que convivem com situações de violência intrafamiliar e de gênero. Através do esporte e da metodologia de grupos reflexivos, Maíra tem levado empoderamento e transformações às meninas, suas famílias e em sua própria vida.
Instituto Noos - Qual foi sua motivação para fazer o curso Grupos Reflexivos de Gênero no Noos?
Maíra - Eu já estava fazendo um curso de formação em terapia de família no Noos quando foi oferecido o curso para trabalhar com homens autores de violência doméstica. Na verdade, eu tinha uma experiência trabalhando no DEGASE (Departamento Geral de Ações Socioeducativas) durante 5 anos, nas unidades de internação do sistema socioeducativo, com meninos e meninas. Esse meu histórico de trabalhar com a questão da violência me levou a querer conhecer a metodologia de grupos reflexivos e eu super me interessei no curso.
Conte-nos um pouco sobre o projeto "Elas no Mar Social" e suas motivações para idealizá-lo.
A ideia do projeto nasceu há 3 anos e meio, quando aprendi a nadar, e foi em paralelo a esse trabalho com homens nos grupos reflexivos. Eu comecei a fazer um grupo com Marco Martinez, que era um dos professores, e a gente foi dupla de facilitadores do grupo no juizado de Niterói.
Bem nessa época eu passei por muitas mudanças na minha vida pessoal, estava me separando do pai da minha filha. Acho que não foi por acaso que estava trabalhando com essas questões. Comecei a perceber que a gente acaba sendo conivente com muitas formas dessas violências que são mais veladas.
Então, essas transformações profissionais e pessoais também aconteceram junto com o nascimento dessa minha veia no esporte, quando comecei a nadar, aprendi a controlar esse medo que eu tinha do mar e a lidar com isso.
Foram coisas juntas, esse empoderamento que foi andando junto com o trabalho dos grupos reflexivos, minha descoberta no esporte e a minha separação.
Como o curso GRG contribuiu para a formatação e desenvolvimento do projeto?
Eu tive a ideia de fazer um grupo reflexivo de gênero com meninas, adolescentes, moradoras de comunidades do Rio de Janeiro, junto com esse processo no mar, de empoderá-las também no mar e nos grupos. É fazer um mergulho dentro e fora do mar, um mergulho na subjetividade e uma oportunidade para que elas aprendessem, no mar, esportes que ainda são elitizados no Rio de Janeiro, a que só uma pequena parcela da população tem acesso, até a natação. As praias ficam lotadas de adolescentes, principalmente ali, no Arpoador, onde a gente começou o projeto. E deu super certo!
A gente fez um convênio com a Secretaria de Educação. Pegamos a metodologia dos grupos reflexivos, adaptamos a essa realidade da praia. Então, os grupos acontecem logo que as meninas saem do mar (elas têm aulas de natação e stand up paddle). A gente se reúne numa canga, sob um guarda-sol, elas lancham e começamos a roda de conversa. O acordo de convivência foi feito no início, levantamento temático e estamos seguindo os passos da metodologia dos grupos. A transformação é bem visível, como elas se relacionam entre si e dividem suas histórias de vida… Elas estão se desenvolvendo muito bem, tanto dentro da água quanto na escola.
O retorno das famílias, a quem eu também dou um certo acompanhamento e acolhimento, é maravilhoso.
Como você tem aplicado os aprendizados do curso no projeto?
No processo de seleção das meninas, junto ao pedagogo e também gestor do projeto Rian Maia, priorizamos adolescentes com histórico de violência familiar. Isso já foi um olhar cuidadoso que tivemos na seleção, para que a gente pudesse realmente transformar a vida dessas adolescentes, que tem questões muito concretas para lidar. Elas já têm mostrado uma mudança de atitude perante a família e na escola, nas questões de violência.
Eu tento fazer um trabalho também para que elas reflitam sobre as reações delas a isso, como elas podem se unir, se proteger, se acolher. É muito importante essa troca de experiência entre elas também. É muito rico e elas têm se apoiado demais. É muito bonito de ver.
Como as pessoas podem ajudar na continuidade do projeto? Quais são as principais necessidades atuais?
Então, agora o que a gente precisa é de divulgação, que as pessoas conheçam o projeto. Estamos nos inscrevendo nas leis de incentivo ao esporte, em editais, buscando patrocínio e também aceitamos patrocínio.
O importante é fazer barulho para que muitas pessoas compartilhem o vídeo do projeto, conheçam o trabalho, para que a gente consiga dar continuidade e pagar os profissionais que estão se dedicando muito e estão bastante envolvidos no projeto.
Além da contribuição para o projeto, que outras contribuições o curso GRG trouxe para o seu dia a dia profissional e pessoal?
A metodologia dos grupos reflexivos de gênero realmente foi muito transformadora na minha vida. A própria simplicidade do acordo de convivência e como isso pode ser transformador nas relações, nos espaços compartilhados é incrível. À partir daí e com a formação em terapia de família, meu olhar simplesmente se ampliou. A minha forma de me comunicar, de conseguir não ficar emitindo a minha opinião sobre as as coisas, mas levar à reflexão, buscar o não julgamento e, o tempo todo, tentar refletir sobre existências que são diferentes de outras possibilidades é, realmente, muito rico e transformador.
Você recomendaria o curso GRG para outras pessoas? Para quem e por quê?
Recomendaria para pessoas que gostam de trabalhar com grupos, psicólogos e educadores. Essa minha experiência no projeto em parceria com o Rian, pedagogo, é muito interessante! Ver como ele está se apropriando da metodologia e como isso pode funcionar também na educação, na área da justiça, em ambientes corporativos, nas escolas… Pode se adaptar a qualquer espaço, em qualquer grupo que se proponha a refletir e compartilhar.
Acompanhe o "Elas no Mar Social" no Facebook para saber mais sobre o projeto e também como ajudar.
Se interessou pela metodologia dos Grupos Reflexivos de Gênero? Mande um e-mail para saber mais sobre o curso oferecido pelo Instituto Noos e as próximas turmas: secretaria@noos.org.br